Maria João Quadros "Fado Mulato"
Letra
Uma jangada perdida
Chega a um porto qualquer
Vem quebrada, vem sumida
Traz a fome adormecida
No ventre duma mulher
Ouvem-se ao longe tambores
Há uma lua que brilha
Bebendo a seiva das flores
A mulher morre de amores
Pela voz daquela ilha
Fado mulato... fado que ao nascer do dia
Traz o perfume do mato... agarrado á melodia
Fado que embala... um sono que sem aviso
Descobre a voz da sanzala... no sonho do seu sorriso
Aquela mulher perdida
Encontra um homem qualquer
E ao dar-lhe a sua vida
Ela fica mais perdida
Não lhe dando o que ele quer
Ao longe o vento que passa
Não sabe dar testemunho
De ver nascer uma raça
Onde Dezembro se enlaça
Ás tardes calmas de Junho
Mais uma bala perdida
Trespassa um corpo qualquer
E há uma pátria que vencida
Tenta estancar a ferida
Com o que a terra lhe der
A terra dá-lhe suspiros
E a terra dá-lhe canções
Vazam-se as noites com tiros
Rasgam-se as almas com vírus
Que matam mais que canhões
Uma guitarra perdida
Dedilha um fado qualquer
Levanta a voz destemida
E diz que por estar vencida
Não deixou de ser mulher
Se alguém souber, que me explique
Como é que um perfume chora
Mas mesmo que aqui não fique
Hei-de levar Moçambique
Pela minha vida fora