joão tamura - C A P U C H O S X X I
Letra
eu quero que a doença saia toda de ti - das veias, do peito, das pernas.
e que te esvazie como deixaste aqui - as salas, as camas, as mesas.
porque as radiografias têm negro, e elas na cozinha têm medo.
e eu não ouço o que elas dizem em segredo, mas eu sei que o adivinho com os dedos...
cada vez que eles te tocam por dentro dos cabelos - e eu não quero sabê-lo, e eu não quero dizê-lo.
é o tempo que te corta os membros: o que de ti resta é só dele.
o devaneio dos animais - somos uns. avó e tu confessa: rezas a que deus?
pois há lugares que adoecem como tu... tanto o quarto, como o céu, como eu.
tantos panos a cair, onde é que te escondes?
nas batidas do sentir… morres quando foges.
enquanto tu dormias eu caí outra vez. o corpo habitua-se sempre à falta.
era quando percorrias os meus dedos - hoje dou-me todo à ressaca.
e é saber todos os teus lábios de cor... incendiamos as coroas destes reis à sua frente.
e que as deusas chorem sobre nós ao lutarmos contra a carne que nos obriga a morrer.
e as coisas que na vida aprendemos levam o pouco de humano que nós temos.
e cresce a importância dos gestos - do sexo e do beijo e do resto.
e à medida que o tempo acontece eu entendo o teu cansaço e segredo.
cristalina em demasia para o chão. delicada em excesso para o tempo.
tantos panos a cair, onde é que te escondes?
nas batidas do sentir… morres quando foges.