Se há momento frustrante na cabeça de um crítico musical este deve-se, antes de mais, ao tentar perceber que chave é essa que abre o segredo com todas as vezes, ainda que de forma renovada, se nos surge pela frente um novo disco, tendência ou artista.
Outros há, também, que de portas escancaradas estão para a entrada dos mais distantes e heterogéneos ouvidos. Aí, o esforço é convertido em prazer extraordinário e de insubordinada leveza criativa.
O primeiro trabalho de Rafael Carvalho, “Origens”, é um disco preciso e afinado quanto às coordenadas estipuladas por duas mãos que ditam a leitura de um código musical que só a viola da terra alcança.
Nessa área, aliás, Rafael Carvalho tem associado o seu nome e reconhecida mestria a uma vontade imensa de amplificar o sentido da viola dentro da sua terra: contextualizada, vertebrada e orgulhosamente divulgada, para lá de resquícios de regionalismos febris. A recém criada Orquestra de Violas é o mais recém projecto gerado desta afiliação criativa.
Voltando ao disco, o acto foi ousado q.b e arriscado o suficiente para criar à sua volta um clã de seguidores e de crentes no valor desse instrumento de tons claros, cordas chorosas e de uma dupla de corações cravada na identidade de toda uma música de contemplação que se faz para a alma.
Este não é um disco pronto-a-vestir, nem nunca se pretendeu que o fosse. Rafael Carvalho assume ao longo do disco 10 canções com o selo da world scene que vivem do ar que o metrónomo deixa passar, dos dedos que escorregam no metal das cordas e do resto que é tudo o que de melhor da magia da música de uma viola pode contar.
De “Origens” fica o piscar de olhos à canção que dá título ao disco e que, instintivamente, carrega nos muitos seus segundos um extraordinário e contrabalançado peso histórico e sentimentalista (na mais pura acepção da palavra) que faz concordar com o nosso coração que estamos perante um dos mais brilhantes executantes desse instrumento que durante tanto tempo – tempo a mais, acrescento – foi deixado à mercê do popular envergonhado.
Outra ideia fica: a de que nos acabamos de encontrar com um disco que tem asas próprias para levantar voo para novas paradas, palcos e ouvidos atentos. Afinal, há críticos com sorte. Sou um deles.
retirado de HardMúsica
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