O jovem clarinetista Tiago Bento, de 21 anos, ganhou o "Young Artist Competition", em Assis, Itália. Para participar no concurso, o músico de Albergaria-a-Velha teve de pedir dinheiro emprestado ao presidente da associação onde dá aulas.
O clarinete com que Tiago Bento ganhou o Young Artist Competition - um concurso inserido no ClarinetFest 2013, organizado pela Associação Internacional de Clarinete, em Assis, Itália - não foi uma paixão assumida desde o início mas, agora, é inquestionável.
Ao vencer o primeiro prémio do concurso, o jovem de 21 anos, residente em Busturenga, Ribeira de Fráguas, Albergaria-a-Velha, provou ser melhor do que 25 músicos dos Estados Unidos, China, Espanha, Hungria e Bielorússia, interpretando o repertório composto por "Concertino", de F. Busoni; "Sonata op. 128", de M. Castelnuovo-Tedesco; e "Three Studies for Clarinet Solo", de K. Husa.
Formou-se com 20 valores
"Já tinha ganho pequenos prémios em Portugal, mas o reconhecimento no estrangeiro foi diferente. Portugal tem muitos valores nesta área e este foi mais um passo importante para mim e para o país. Acho que me abriu portas para poder fazer carreira internacional a tocar clarinete", diz, confiante. Em breve espera voltar a fazer as malas e conhecer a Venezuela, onde participará no Festival de Clarinetes.
Os louros que Tiago Bento agora colhe são fruto de muito suor. Em pequeno, depois de testar o clarinete do irmão mais velho, pediu um trompete para si. Mas os parcos recursos financeiros dos pais ditaram que aprendesse e usasse o mesmo instrumento do irmão.
Só há dois anos comprou o primeiro clarinete e, ao vencer em Itália, ganhou outro. Nenhum deles é o "Tosca, de RC Prestige", o topo de gama com que sonha. Tiago sorri e não se queixa.
Aos 10 anos ingressou na escola do Grupo Desportivo e Cultural de Ribeira de Fráguas. Prosseguiu na orquestra ligeira da banda da Branca e, depois, no conservatório Calouste Gulbenkian, em Aveiro.
Os receios de não conseguir sustentar-se a tocar clarinete mantinham-se e levaram-no a frequentar a licenciatura em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações, na Universidade de Aveiro, enquanto terminava o último ano do conservatório, que concluiu com 20 valores. "Desisti da engenharia porque tive a certeza que o futuro que queria passava pela música", conta.
Inscrever-se na Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo, no Porto, treinar cinco horas por dia e dar aulas na escola da ARMAB (Associação Recreativa e Musical Amigos da Branca) são apenas parte de um caminho feito a pulso.
Tiago pagou a viagem a Itália com dinheiro emprestado pelo presidente da ARMAB e o dinheiro que ganhou em Itália servirá para ir à Venezuela. O futuro? Sorri de novo. "Um mestrado, experiências no estrangeiro, tocar numa orquestra". Um passo de cada vez.
Retirado do DN