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A Música Portuguesa

Em terras Em todas as fronteiras Seja bem vindo quem vier por bem Se alguém houver que não queira Trá-lo contigo também

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DJ Magazino: A idade maior

Deixou a baliza do Vitória de Setúbal e o curso de Direito para ser DJ. Tornou-se uma referência na electrónica portuguesa, mas pouco tem a ver com os clichés da área: acorda cedo, é obcecado por jornais e joga xadrez. Este ano Magazino celebra 18 anos de carreira e, até Outubro, vai tocar em 18 cidades portuguesas, na companhia de 18 músicos amigos

Nunca diz que é DJ. «Toco discos», prefere Luís Costa, mais conhecido como Magazino. De facto, foi o fascínio pela superfície lustrosa dos vinis e pela delicadeza com que a agulha pousava no disco que o fez despertar para a música. Hoje tem uma colecção que ultrapassa os sete mil exemplares.

 

Os pais ouviam quase em exclusivo música clássica e a Magazino não restou outra hipótese senão começar por aí. Tinha 10 anos e Schubert, Vivaldi ou Beethoven embalavam-lhe a vida. Mas depois chegamos anos 80/90. Os Sex Pistols, os Ramones, os Peste & Sida. Logo de seguida os Joy Division e os NewOrder. O mundo estava de pernas para o ar. Pelo menos o mundo de Luís.

 

Quando tinha uns 15 anos o irmão foi de férias a Benidorm e trouxe-lhe o vinil Hello Africa, do Dr. Alban. «Começava a sair à noite e quase não se ouvia electrónica. De repente, aquele disco marcou-me». De tal forma, que a carreira de futebolista – foi guarda-redes do Vitória de Setúbal entre os 9 e os 16 anos – foi ficando para trás. «Já não estava a gostar daquilo, passava a vida a ser castigado porque saía à noite na véspera dos jogos». Influenciado pelo pai, especialista em Direito do Trabalho, ainda tentou a universidade. Não passou do segundo ano. A música já tomava conta da sua vida. «Os meus pais não reagiram nada bem. Na altura, ainda mais do que agora, ser DJ era sinónimo de álcool e drogas». Eos pais não estavam assim tão enganados.

 

Aos 17 anos, Luís foi tocar para o Clubíssimo, clube underground de Setúbal, onde à sexta-feira lhe pagavam em copos e tostas-mistas e ao sábado recebia cinco contos. Ao fim de dois anos deixou-se cair no consumo de LSD e Ecstasy. «Consumia mesmo muito e aos 20 anos caí numa depressão. Comecei a ter ataques de ansiedade e percebi que não podia continuar assim. Apesar de tudo, a vontade de tocar discos era maior do que a vontade de consumir drogas».

 

Libertou-se e a sua carreira disparou. Enquanto DJ Del Costa editou por importantes labels internacionais, tocou nos EUA, na Rússia, por toda a Europa. Em 2002, subiu ao palco principal do Sonar, em Barcelona. Em Portugal, durante sete anos, Luís foiDJ residente dos loucos after-hours do Paradise Garage. «Já estava saturado e percebi que ‘DJ dos afters’ era um rótulo pouco positivo». Por isso, quando se dá o final dos afters, em 2006, rumou a Barcelona durante dois anos e reinventou-se. Enterrou o DJ Del Costa e criou o alter-ego Magazino. Uma escolha que só aparentemente não é óbvia: «Sempre bebi muita informação. Gosto de acordar cedo e leio o Le Monde, a Folha de São Paulo, o NY Times, leio imensas revistas e estou sempre a ver canais de notícias. Sou fanático pelo que se passa no mundo, é uma busca incessante». A sua busca incessante no mundo da música, encontrou razão de ser naquele nome.

 

No regresso a Portugal, Magazino aceitou o convite (dos DJ José Belo e João Maria) para se juntar à editora e promotora Bloop – grande responsável pelo regresso das matinés a Portugal. «Tudo corria bem. Mas um mês depois a minha mãe morreu. Foi a altura mais difícil da minha vida, durante quase dois meses não toquei. E foram eles que me ajudaram». No EP que lança este mês de Setembro, sob a chancela da Bloop, há uma faixa intitulada ‘22’, uma homenagem à mãe, que morreu a 22 de Dezembro, no quilómetro 22 da A2.

 

Nos últimos quatro anos Magazino tornou-se uma referência na música electrónica portuguesa, apontado como um dos cinco melhores DJ nacionais. Mas isso não lhe deu o reconhecimento das massas. «Dentro da minha estética musical sou reconhecido, mas agora a moda são os DJ que são actores e modelos. Há a ideia de que qualquer um pode ser DJ. Não é assim, é preciso estudar, saber estar atento ao feeling do momento e saber olhar para a pista e, dentro de uma esfera coerente, dar o que o público quer», diz. «Hoje, quando me contratam, já sabem que tipo de música toco, mas de vez em quando ainda me pedem a Shakira. Digo sempre que toco no final», brinca.

 

Sempre sonhou festejar os 18 anos de carreira. Sobretudo porque a data significa que, aos 35 anos de idade, já passou mais tempo a tocar discos do que a fazer qualquer outra coisa na sua vida. Assim, até Outubro andará em tournée por Portugal. «São 18 cidades, algumas onde nunca toquei, e 18 convidados como o Vibe, o Rui Vargas ou o José Belo». Braga, Aveiro, Guimarães, Lisboa, Porto e, claro, Setúbal, são algumas das localidades. Para trás ficam milhares de quilómetros e concertos e a memória remota daquela primeira vez que tomou conta de uma cabina de som. «Tinha tanto medo que levei uma cábula para baixo do gira-discos com os temas que ia tocar já definidos. Hoje em dia é o que mais critico num DJ. A incerteza de cada noite é o que me fascina». Como um jogo de xadrez, que Luís adora, onde o xeque-mate pode chegar quando menos se espera.

 

Retirado do Sol

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